Outras 30 usinas estão prontas para pedir recuperação judicial

Estiagem atrasa safra e reduz produção de cana

Para especialistas, chuva recente não evita perda no desenvolvimento da planta

Setor enfrenta forte crise, com fechamento de usinas, atrasos salariais e unidades em recuperação judicial

MARCELO TOLEDODE RIBEIRÃO PRETO

A crise hídrica vai "engolir" parte dos benefícios recentemente obtidos pelo setor sucroenergético para este ano, que incluem a alta da mistura do etanol anidro à gasolina e a cobrança da Cide nesse combustível.

Enquanto mudanças na Cide (tributo regulador) e no PIS/Cofins e a alta da mistura de 25% para 27% devem representar R$ 4 bilhões de ganhos para o endividado setor, a seca pode gerar perdas de R$ 2,4 bilhões neste ano.

O cálculo é da Udop (União dos Produtores de Bioenergia), que prevê que a estiagem provoque perdas de 3% a 4% do total do faturamento, estimado em R$ 60 bilhões no ano no centro-sul do país.

"A situação climática até melhorou nos últimos dias, mas a grande dúvida do ano é o impacto da seca. A safra atrasará e devemos ter redução do volume de cana. Apesar das medidas, o ano pode terminar empatado", disse Celso Torquato Junqueira Franco, presidente da Udop.

A previsão de perdas é até conservadora, na avaliação de Rejane Cecília Ramos, pesquisadora do IEA (Instituto de Economia Agrícola), órgão do governo de São Paulo.

"Não choveu na época do plantio, no início de 2014, e, quando a cana foi plantada, não cresceu, por causa das altas temperaturas e da falta de água", afirmou. Segundo ela, é difícil definir um percentual de perdas, mas é certo que haverá queda na produção.

Com a seca, a safra, que geralmente começa em março, deve ficar para a segunda quinzena de abril ou até maio na maioria das usinas. E, segundo o setor, as chuvas das últimas semanas não servem para evitar a perda gerada no desenvolvimento da planta, entre novembro e janeiro.

AS MEDIDAS

O aumento da mistura de etanol anidro na gasolina deve gerar receita de R$ 80 milhões/safra, segundo a Udop.

As usinas passarão a produzir o anidro (1 bilhão de litros a mais) em vez do hidratado --usado diretamente nos carros flex. Essa mudança vai gerar ganho de R$ 0,08 por litro de combustível.

Além disso, com a volta da cobrança da Cide e da elevação do PIS/Cofins sobre a gasolina, o preço do combustível subiu, o que tornou o etanol mais atraente.

O problema é que o mercado sucroenergético enfrenta uma forte crise, com o fechamento de usinas, unidades em recuperação judicial e atrasos salariais.

Estudo da RPA (Ricardo Pinto e Associados), de Ribeirão Preto, apontou que 30 usinas estão a ponto de pedir recuperação judicial, com dívidas somadas de R$ 11 bilhões (Folha de S.Paulo, 7/3/15)